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Química
Metano
por Efluentes Líquidos no Brasil
Os efluentes com alto teor de matéria orgânica
como os esgotos domésticos e aqueles das indústrias alimentícias,
de bebidas e de papel e celulose, têm um alto potencial para emissão
de metano. A matéria orgânica presente nesses efluentes é
expressa em termos de Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO),
que é o principal fator determinante do potencial de geração
de metano. A DBO representa a quantidade de oxigênio consumida por
microorganismos na oxidação bioquímica da matéria
orgânica expressa em miligramas por litro (mg/L).
O volume de esgotos gerados por pessoa depende da quantidade de água
consumida, correspondendo normalmente a 80% desta. A carga orgânica
unitária varia de país para país, entre 20 e 80 g
DBO por habitante por dia. No Brasil, esta situa-se em torno de 50gDBO/hab.dia
(Feachem, 1983). Considerando-se este fator, tem-se no Brasil a geração
de 1,97 milhões de toneladas de DBO por ano.
O aumento desordenado da população e o desenvolvimento de
grandes núcleos urbanos sem planejamento, sobretudo nos países
em desenvolvimento, dificultam as ações de manejo de resíduos.
A necessidade de disposição e tratamento é reconhecida,
mas, por falta de recursos, essas ações costumam ser postergadas,
provocando problemas de saúde nas populações e degradação
do meio ambiente.
No Brasil, uma grande variedade de sistemas é utilizado para o
tratamento de águas residuárias. Apesar disso, uma grande
parcela das águas residuárias geradas é lançada
diretamente nos corpos d'água sem tratamento.
Segundo os dados do último Censo sobre saneamento, a Pesquisa Nacional
de Saneamento Básico - PNSB - 1989 (FUNDAÇÃO IBGE,
1992), dos 4.425 municípios do país, 2.091 possuíam
rede para coleta de esgoto e destes, apenas 345 possuíam algum
tipo de tratamento coletivo.
1 Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) - basicamente gradeamento,
caixa de areia, decantador primário, lodos ativados e/ou filtro
biológico, decantador secundário e secagem de lodo.
2 Unidade de Tratamento Preliminar: - apenas grade e caixa de remoção
de areia.
3 Unidade de Tratamento Primário: - grade, caixa de areia, decantador
e secagem de lodo.
Nas áreas rurais e para sistemas individuais, os tanques sépticos
são bastante utilizados, por vezes seguido de filtro anaeróbio,
ou ainda pela infiltração do efluente no solo.
Dentre as várias opções coletivas para o tratamento
biológico, as mais utilizadas no Brasil são as lagoas de
estabilização e as diversas modificações do
processo de lodos ativados, particularmente aquelas que empregam o conceito
de aeração prolongada e os filtros biológicos.
As lagoas aeradas têm sido bastante utilizadas em comunidades de
médio porte e para alguns tipos de efluentes industriais.
Os efluentes da produção de indústria de diferentes
setores como alimentos, bebidas, química, metalúrgica, têxtil,
couro e celulose têm sido tratados tradicionalmente através
de lagoas ou pelos processos de lodos ativados e filtros biológicos.
No início dos anos oitenta existiam algumas unidades de filtros
anaeróbios e nos últimos anos tem havido uma forte tendência
de utilização de reatores anaeróbios, para o tratamento
de efluentes industriais. Os setores que vem empregando esta tecnologia
fazem uso dos benefícios que estes sistemas conferem, como baixo
requerimento de área e não-necessidade de energia de aeração.
Desde 1983, mais de 350 sistemas anaeróbios foram instalados.
Em alguns Estados tem havido um aumento de utilização de
reatores do tipo UASB (Upflow Anaerobic Sludge Blanket, ou Reator Anaeróbio
de Fluxo Ascendente) para o tratamento de esgotos domésticos, como
unidade única, ou seguidos de lagoa facultativa. Somente no Estado
do Paraná existem mais de 220 reatores anaeróbios, tratando
esgotos de cerca de 1.200.000 habitantes. Dos reatores anaeróbios
instalados no Brasil, a grande maioria é do tipo UASB, mostrado
na Figura 5. Esta tecnologia é muito apropriada às condições
do país devido às condições climáticas
favoráveis, simplicidade de construção e operação
do sistema, além de não serem necessários equipamentos
eletro-mecânicos de agitação e aeração
e nem material de enchimento para o reator.
A produção mundial de metano gerado no tratamento de efluentes
sob condições anaeróbias varia entre 30 e 40 Tg/ano.
Isto representa de 8 a 11 % do total global de emissões antropogênicas
de metano, estimado em 360 Tg/ano (IPCC,1995). O tratamento de efluentes
industriais contribui com a maior parcela, estimada entre 26 e 40 Tg/ano.
O tratamento de esgotos domésticos e comerciais é estimada
uma emissão de metano de aproximadamente 2 Tg/ano.
As incertezas destas estimativas resultam da falta de dados que caracterizam
as práticas de tratamento das águas residuárias,
as quantidades de esgoto que são tratados anaerobiamente, dados
da quantidade de metano produzido que é queimado ou utilizado de
outra forma e dados de campo das potenciais emissões de metano
em lagoas de tratamento de esgoto (Thorneloe, citado no IPCC, 1995a).
Algumas considerações sobre os processos de tratamento de
águas residuárias (Definições)
A degradação biológica é um dos processos
mais utilizados para o tratamento de efluentes por razões econômicas.
A degradação ocorre através da ação
de agentes biológicos como as bactérias, protozoários
e algas.
Os processos aeróbios são os mais utilizados nos países
desenvolvidos. Em condições aeróbias matéria
orgânica é convertida a gás carbônico, água
e biomassa. A energia potencial presente nos resíduos termina na
biomassa (lodo) cuja produção se torna um grande problema.
No tratamento de esgotos por exemplo a disposição do lodo
produzido é o fator de maior custo que também requer grandes
quantidades de energia. Devido à presença nesses lodos de
metais pesados e outros contaminantes, seu aproveitamento na agricultura
e outras formas de disposição é difícil. Além
disso, a aeração requerida para fornecer oxigênio
aos microrganismos aeróbios requer grandes quantidades de energia
e produz significativas quantidades de CO2.
O processo de degradação anaeróbia transforma a matéria
orgânica em gás carbônico, metano, água e biomassa.
A produção de biomassa é significativamente menor
quando comparada aos processos aeróbios pois a taxa de crescimento
dos microrganismos anaeróbios é baixa. A energia potencial
do resíduo vai em parte para a biomassa e parte para o metano.
Portanto o conteúdo energético existente no biogás
pode ser usado em substituição a combustíveis fósseis,
reduzindo o consumo destes e o conseqüente aumento da concentração
de CO2, uma vez que o CO2 produzido na combustão do metano recuperado
é considerado, para fins de inventário, de ciclo fechado.
A seguir são feitas algumas considerações sobre os
processos de tratamento de águas residuárias empregados
no Brasil
Reatores
anaeróbios
Uma opção bastante interessante que vem sendo mais e mais
empregada é o tratamento anaeróbio em reatores. Estes se
baseiam no princípio de separação das fases sólida,
líquida e gasosa, fazendo com que o lodo se acumule e seja mantido
no tanque de tratamento com tempos de residência celular bastante
superiores aos tempos de residência hidráulica.
a. O reator anaeróbio de fluxo ascendente e manto de lodo (reator
UASB) retém o lodo pela incorporação de um decantador
e um separador de gases na parte superior do reator. O esgoto é
distribuído uniformemente pelo fundo do mesmo. Após passar
pelo manto de lodo estabilizado, rico em bactérias anaeróbias,
sofre degradação e o efluente tratado é recolhido
em canaletas no topo do reator. Os sólidos se acumulam no fundo
e o gás, contendo como principal componente o metano, é
encaminhado para queima ou recuperação. O excesso de lodo
é encaminhado para secagem e pode ser disposto em aterro sanitário
ou passar por adequação para ser aproveitado como bio-fertilizante.
Os reatores UASB são sistemas compactos e de alta taxa, indicados
para a recuperação eficiente do gás metano.
Figura 1. Representação esquemática de um sistema
de tratamentos anaeróbio do tipo UASB
b. Os filtros anaeróbios retêm o lodo num material suporte
colocado dentro do reator. Esse material pode ser de plástico,
pedra, cerâmica, bambu etc.
O filtro é mantido submerso, o que garante a ausência de
ar (oxigênio) e o conseqüente desenvolvimento de microorganismos
anaeróbios responsáveis pela degradação da
matéria orgânica.
Figura 2. Representação esquemática de um sistema
de filtro anaeróbio
Lagoas
de estabilização
As lagoas de estabilização, aeróbias, anaeróbias
ou facultativas, são os processos de tratamento mais comumente
usados nos países de clima quente. Tratam-se de grandes tanques
escavados na terra, que funcionam principalmente pela ação
de bactérias e algas. Nestas condições, a velocidade
de oxidação biológica é baixa, requerendo
grandes áreas de terreno. Quando estas são disponíveis,
seus custos de operação, construção e manutenção
são bastante reduzidos. As lagoas, em geral, não permitem
o controle e armazenamento do gás produzido.
As lagoas de estabilização apresentam quatro tipos básicos:
aeróbias, em geral rasas, com cerca de 0,50m de profundidade; anaeróbias
entre 2m e 4,5m de profundidade; facultativas, com profundidade entre
1,5m a 2m; e as de maturação, com 1m de profundidade, usadas
após sistemas secundários, para melhorar o efluente.
Figura 3. Representação esquemática de sistema de
lagoas de estabilização
Lagoa aerada
As lagoas aeradas caracterizam-se por exigir a instalação
de equipamentos mecânicos para fornecer oxigênio ao líquido.
Requerem áreas menores, todavia consomem energia.
Figura 4. Representação esquemática de sistema de
lagoa aerada
Lodos
ativados
Esses sistemas são bastante compactos, compondo-se de decantador
primário, tanque de aeração, e decantador secundário.
O esgoto é sedimentado e o efluente passa para o tanque de aeração;
o lodo contendo microorganismos aeróbios cresce e é recirculado,
mantendo uma alta velocidade de degradação da matéria
orgânica.
Figura 5. Representação esquemática do sistema de
lodos ativados
Filtro
biológico
Os filtros biológicos consistem de um leito de material suporte
que retém os microorganismos. Os líquidos são alimentados
no filtro e neste se mantém a presença de ar, o que garante
o desenvolvimento de organismos aeróbios responsáveis pela
degradação da matéria orgânica.
Figura 6. Representação esquemática do filtro biologico.
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