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Biologia

Íntegra da Declaração Ministerial de Kyoto

Íntegra da Declaração Ministerial, aprovada no Fórum Mundial da Água, no dia 23 de março de 2003, em Kyoto, no Japão.

Nós, ministros e chefes de delegação, reunidos em Kyoto, no Japão, em 22 e 23 de março de 2003, por ocasião do 3°. Fórum Mundial da Água. Com base nos resultados da Conferência de Monterrey sobre Financiamento ao Desenvolvimento, da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (WSSD) e da iniciativa do Secretariado Geral das Nações Unidas sobre Água, Energia, Saúde, Agricultura e Biodiversidade (WEHAB), bem como outros eventos relacionados à água, nós afirmamos nossa resolução comum de implementar as recomendações apropriadas de modo a alcançar as metas e objetivos internacionalmente acordados, incluindo os Objetivos das Nações Unidas de Desenvolvimento para o Milênio (MDGs). Considerando os relatos e recomendações temáticos e regionais do 3°. Fórum Mundial da Água, nós declaramos o seguinte: (Política Geral)

1. Água é determinante para o desenvolvimento sustentável, incluindo a integridade dos ecossistemas e a erradicação da pobreza e da fome, indispensável para a saúde e bem-estar humanos. Priorizar questões de água é uma demanda global urgente. Cada país tem a responsabilidade primária de agir. A comunidade internacional, assim como as organizações internacionais e regionais devem garantir apoio. O fortalecimento de autoridades locais e comunidades deve ser promovido pelos governos, com especial atenção a questões de pobreza e gênero.

2. Embora os esforços até agora feitos para o desenvolvimento e gestão de recursos devam ser mantidos e reforçados, nós reconhecemos que boa governança, capacitação e financiamento são de extrema importância para o sucesso de nossos esforços. Neste contexto, nós promoveremos a gestão integrada de recursos hídricos.

3. Ao gerir a água, nós devemos assegurar boa governança, com foco reforçado na abordagem de base doméstica, de bairros e comunitária, ao tratar de eqüidade na divisão de benefícios, com especial atenção às perspectivas em favor do pobres e de gênero, nas políticas hídricas. Nós devemos promover melhor a participação de todos os stakeholders e assegurar transparência e responsabilidade em todas as ações.

4. Nós nos comprometemos, a longo prazo, em fortalecer a capacidade da população e das instituições através de assistência - técnica e de outra ordem - da comunidade internacional. Isso deve incluir, entre outras coisas, sua habilidade de medir e monitorar performances, compartilhar abordagens inovadoras, melhores práticas, informação, conhecimento e experiências relevantes para as condições locais.

5. Atender às necessidades financeiras é uma tarefa para todos nós. Nós devemos atuar de forma a criar um ambiente propício para facilitar investimentos. Nós devemos identificar prioridades nas questões de água e assim refleti-las em nossos planos nacionais de desenvolvimento/estratégias de desenvolvimento sustentável, incluindo os Papers de Estratégias para Redução da Pobreza (PRSPs). Fundos devem ser levantados através da cobrança de custos de recuperação, em condições climáticas, ambientais e sociais adequadas e segundo o princípio "poluidor-pagador", com especial consideração para com os pobres. Todas as fontes de financiamento, tanto públicas quanto privadas, nacionais e internacionais, devem ser mobilizadas e usadas da forma mais eficiente e efetiva. Nós consideramos o relatório de Painel Mundial sobre Infraestrutura de Financiamento Hídrico.

6. Nós devemos explorar toda a gama de arranjos financeiros, incluindo a participação do setor privado, alinhada com nossas políticas e prioridades nacionais. Nós identificaremos e desenvolveremos novos mecanismos de parcerias público-privadas para os diferentes atores envolvidos, enquanto asseguramos o necessário controle público e enquadramento legal para proteger os interesses públicos, com ênfase particular na proteção dos interesses dos pobres.

7. Como a situação da água difere de região para região, nós vamos dar suporte a esforços regionais e sub-regionais estabelecidos, como a visão da Conferência Ministerial Africana da Água (AMCOW) para facilitar a Nova Parceria para o Desenvolvimento da África (NEPAD) e o Sistema de Integração Centro-Americano (SICA), e a implementação do programa de ação em favor dos Países Menos Desenvolvidos (LDCs). Reconhecendo a natureza excepcionalmente frágil dos recursos hídricos nos pequenos países-ilhas em desenvolvimento, nós apoiamos programas específicos de colaboração como o Programa de Ação Conjunta Caribe-Pacífico sobre Água e Clima em Pequenos Países-Ilha.

8. Nós reafirmamos a necessidade dos países coordenarem melhor o monitoramento e os sistemas de avaliação, tanto no nível local como de bacias hidrográficas e nacional, com o desenvolvimento de indicadores nacionais relevantes, onde apropriado. Nós conclamamos as Nações Unidas, inter alia através da Comissão de Desenvolvimento Sustentável, para assumir um papel de liderança, cooperar com outras organizações envolvidas no setor hídrico e para trabalhar de maneira transparente e cooperativa. Nós damos as boas vindas à disposição da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) e outras organizações, de informar periodicamente à comunidade internacional sobre atividades de ajuda em áreas relacionadas à água. O acompanhamento dos progressos em questões de água pode ser bem explorado com base nas estruturas já existentes e confiando em informações dos países e agências das Nações Unidas relevantes, bancos de desenvolvimento regional e outros stakeholders, incluindo organizações da sociedade civil.

9. Nós damos as boas vindas à proposta de estabelecer uma nova rede de websites para acompanhar o Portfólio de Ações da Água, que divulgará ações planejadas e tomadas em questões relacionadas à água por países e organizações internacionais, de modo a compartilhar informação e promover cooperação. (Gestão de Recursos Hídricos e Repartição de Benefícios)
10.
Com o propósito de desenvolver a gestão integrada de recursos hídricos e planos de eficiência hídrica até 2005, nós daremos assistência aos países em desenvolvimento, particularmente os países menos desenvolvidos, e países com economias em transição, provendo ferramentas e assistência futuramente requerida. Neste contexto, entre outros, nós encorajamos bancos de desenvolvimento regional a assumir o papel de facilitadores. Para este fim, nós convidamos todos os stakeholders envolvidos, incluindo doadores privados e organizações da sociedade civil, a participar neste processo.

11. Reconhecendo que a cooperação entre Estados localizados às margens de cursos d'água transfronteiriços e/ou fronteiriços contribui para a gestão sustentável da água e mútuos benefícios, nós encorajamos todos estes Estados a promover tal cooperação.

12. Nós ainda encorajamos a pesquisa científica para previsão e monitoramento do ciclo global da água, incluindo o efeito das mudanças climáticas, e para o desenvolvimento de sistemas de informação, que permitam compartilhar mundialmente tão valiosos dados.

13. Nós promoveremos medidas para reduzir perdas nos sistemas de distribuição e outras medidas de gestão da água necessárias, como a forma economicamente mais eficiente de atender à demanda.

14. Nós nos empenharemos para desenvolver e distribuir recursos hídricos não convencionais ao promover tecnologias inovadoras e ambientalmente corretas, como a dessalinização da água do mar, reciclagem e coleta da água.

15. Nós reconhecemos o papel da energia hidrelétrica como uma das fontes de energia limpa e renovável, e que seu potencial deve ser concretizado de forma ambientalmente sustentável e socialmente equitativa. (Água potável segura e saneamento)

16. Atingir a meta estabelecida nos MDGs, de reduzir pela metade a proporção de pessoas sem acesso à água potável segura até 2015, e aquela estabelecida no Plano de Implementação da WSSD, de reduzir pela metade a proporção de pessoas sem acesso a saneamento básico até 2015, requer um enorme investimento em abastecimento de água e saneamento. Nós conclamamos cada país a desenvolver estratégias para atingir tais objetivos. Nós redobraremos nossos esforços coletivos para mobilizar recursos financeiros e técnicos, tanto públicos quanto privados.

17. Nós trataremos do abastecimento de água e saneamento em áreas rurais e urbanas, de acordo com as respectivas condições locais e capacidades de gestão, com vistas a obter melhorias de curto prazo nos serviços da água e esgotos, assim como investimentos economicamente eficientes em infraestruturas e gestão e manutenção adequadas, ao longo do tempo. Assim fazendo, nós estaremos ampliando o acesso de pessoas pobres à água potável segura e saneamento.

18. Considerando que práticas básicas de higiene - a começar por lavar as mãos em casa - devem ser encorajadas, esforços intensificados também devem ser lançados para promover avanços técnicos, especialmente quanto ao desenvolvimento e aplicação prática de tecnologias eficientes e de baixo custo, associadas à vida diária para a provisão de água potável segura e saneamento básico. Nós encorajamos estudos para que estas tecnologias inovadoras sejam apropriadas localmente. (Água para Alimentação e Desenvolvimento Rural)

19. Água é essencial para todo tipo de produção agrícola e desenvolvimento rural, de modo a melhorar a segurança alimentar e erradicar a pobreza. Ela deve servir continuamente a uma variedade de finalidades, incluindo produção de alimentos, crescimento econômico e sustentabilidade ambiental. Nós estamos preocupados com a pressão crescente sobre os recursos limitados de água doce e sobre o meio ambiente. Considerando que uma diversa gama de práticas e economias agrícolas evoluíram no mundo, nós devemos fazer todo esforço para reduzir a gestão insustentável da água e melhorar a eficiência do uso agrícola da água.

20. Através do uso e gestão efetivos e equitativos da água, e estendendo a irrigação nas áreas de necessidade, nós promoveremos o desenvolvimento baseado em comunidades vizinhas, que deve resultar em atividades e oportunidades geradoras de renda e contribuir para a erradicação da pobreza em áreas rurais.

21. Nós encorajamos investimentos inovadores e estratégicos, pesquisa e desenvolvimento e cooperação internacional para a melhora progressiva da gestão hídrica agrícola, através de meios como a gestão derivada de demanda, incluindo manejo participativo da irrigação; reabilitação e modernização das instalações de água existentes; coleta de água; cultivo de variedades agrícolas que economizem água ou sejam resistentes à seca; armazenamento de água e disseminação das melhores práticas agrícolas.

22. Em se tratando a pesca em águas interiores de uma fonte de alimento importante, a produção de peixes de água doce deve ser tratada com esforços intensificados para melhorar a qualidade e quantidade da água nos rios e proteção ou restauração das áreas de reprodução. (Prevenção de Poluição das Águas e Conservação dos Ecossistemas)

23. Nós reconhecemos a necessidade de intensificar a prevenção à poluição da água, de forma a reduzir os riscos à saúde e ao meio ambiente e a proteger os ecossistemas, incluindo o controle de espécies invasoras. Nós reconhecemos o conhecimento tradicional sobre água e promoveremos a conscientização dos impactos positivos e negativos das atividades humanas sobre bacias hidrográficas, para o ciclo completo da água, através de informação pública e educação, incluindo a dirigida a crianças, de forma a evitar a poluição e o uso insustentável dos recursos hídricos.

24. Para assegurar um abastecimento sustentável de água de boa qualidade, nós devemos proteger e usar de forma adequada os ecossistemas, que naturalmente capturam, filtram, armazenam e liberam água, como os rios, áreas inundáveis, florestas e solos.

25. Nós estimulamos os países a rever e, quando necessário, estabelecer o enquadramento legal apropriado para a proteção e uso sustentável de recursos hídricos e prevenção de poluição da água.

26. Tendo em vista a rápida degradação de bacias hidrográficas e florestas, nós concentraremos esforços no combate ao desmatamento, desertificação e degradação da terra através de programas de promoção do manejo verde e sustentável de florestas, restauração de terras e áreas inundáveis degradadas e conservação da biodiversidade.(Mitigação de Desastres e Gestão de Riscos)

27. A severidade crescente do impacto de enchentes e secas enfatiza a necessidade de uma ampla abordagem, que inclui medidas estruturais reforçadas, como reservatórios e diques, e também medidas não estruturais como o controle e orientação do uso da terra, sistemas de previsão e alerta contra desastres e sistemas nacionais de gestão de riscos, em harmonia com o meio ambiente e os usos diversificados da água, incluindo a navegação de águas interiores.

28. Nós cooperaremos para minimizar danos causados por desastres através da ampliação do compartilhamento e troca, quando apropriado, de dados, informação, conhecimento e experiência a nível internacional. Nós encorajamos a continuidade da colaboração entre cientistas, gestores de água e stakeholders relevantes para reduzir a vulnerabilidade e tornar as melhores ferramentas de previsão e prevenção acessíveis aos gestores de água. Finalmente, agradecemos o governo e o povo do Japão por hospedar esta conferência ministerial e o Fórum.

* tradução para o português de Liana John / AE